quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Segurança aqui e agora

Ô Du,

Que bom que vc deu o ar da graça expressando sua opinião com tanto sentimento.

Acredito que a morte do menino João Hélio causou indignação em cada um de nós por várias razões, mas por dois motivos principais. O primeiro, claro, pela violência estarrecedora do assassinato. O segundo, pelo crime ter funcionado como uma espécie de detonador da revolta acumulada que carregamos dentro de nós mesmos pela insegurança e medo crescentes em que vivemos. A imprensão que se tem é de que estamos num beco sem saída e a gente perde o chão quando raciocina que a barbárie que matou o menino no Rio poderia ter acontecido com o filho de qq um de nós.

Entendo seus argumentos e compartilho com muitos deles, mas acredito que vc não foi feliz ao se referir a este crime como um mero "acidente de trabalho". Mais de uma testemunha avisou os criminosos de que o menino estava preso pelo cinto. Eles só pararam o carro depois de perorrer 7 km e quando o corpo do garoto estava todo destroçado, numa atitude de absoluto desprezo pela vida.

Eu sempre digo que não se pode esperar uma reação humana de quem vive, desde que nasceu, como bicho. A Dara, o Tico e a Pretinha têm uma vida muito melhor do que a de muitos brasileiros. Chico e Serena então nem se fala. Mas não dá. Nem mesmo a miséria, a opressão e a consciência da triste realidade em que estamos mergulhados conseguem justificar ou, ao menos, aplacar a revolta que a morte do menino e a dor da família causaram.

Sou uma cidadã que ganha um salário que é fruto de trabalho diário e honesto. Estou em dia com as minhas obrigações com a justiça eleitoral, pago impostos, respeito as leis de trânsito e estou farta desta sandice. Quero segurança. Quero andar despreocupada pelas ruas como fazem milhares de pessoas que vivem em outros lugares fora do Brasil.

E não dá para esperar que deputados e senadores sejam punidos por seus crimes seculares para que alguma coisa comece a acontecer. Não dá para esperar que os governantes tenham vontade política para dar início ao tão necessário e almejado processo de distribuição de renda que o país reclama. Eu vivo aqui e agora e quero segurança hoje.

Qualquer ação eficiente para transformar a realidade demandará tempo, claro. Isso ninguém discute. Mas quero medidas emergenciais. O Betinho, quando inventou o "natal sem fome" sabia que não estava resolvendo o problema da pobreza. É o mesmo caso.

Reduzir a maioridade penal seria uma medida nessa direção? Para dizer a verdade, estou mais propensa a pensar que não. O que a gente percebe é que o Congresso vai se aproveitar do clima de comoção nacional para, como de costume, usar de demagogia. Mas a sociedade não pode deixar passar a oportunidade de aprofundar o debate sobre essa questão. Nem pode deixar de exigir que alguma coisa seja feita agora, imediatamente.

Mas vamos continuar debatendo.

Beijinho,
Cris

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